Desvalorização da taxa de câmbio efetiva real ainda não impacta no volume exportado da indústria de transformação
Dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram que a China foi responsável por cerca de 68% do acumulado de superávit do começo do ano até setembro de 2020. O excedente do comércio do Brasil com a China foi de US$ 28,8 bilhões neste período.
O saldo da balança comercial de setembro no valor de US$ 6,2 bilhões foi o maior da série histórica mensal desde 2001. No acumulado do ano até setembro, o superávit de US$ 42,2 bilhões foi o segundo maior e deverá atingir até o final do ano uma valor ao redor de US$ 58,5 bilhões.
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A melhora no saldo é explicada pela queda nas importações, que recuaram 25,5% na comparação interanual do mês de setembro e 14,4% na do acumulado do ano até setembro. Em sentido oposto, em termos do saldo comercial, as exportações caíram, com variação de 9,1% (setembro 2020/19) e 7,7% (jan-set 2020/19).
A recessão mundial e doméstica explica o cenário de recuo nos indicadores de valor. Em adição, a acentuada desvalorização da taxa de câmbio efetiva real ajuda a conter as importações e barateia o preços dos produtos brasileiros no comércio exterior. Entre 2019 e a média de jan-set de 2020, a desvalorização real foi de 28%. Se fizermos a mesma comparação entre 2011/jan-set 2020, a desvalorização foi de 74%.
Observa-se, porém, que a forte desvalorização iniciada em março de 2020 onera os custos de setores que utilizam insumos e componentes importados, como é o caso do setor automotivo e eletrônico. A agricultura é também onerada em termos de seus insumos; no entanto, o peso dos importados para este setor é menor e a demanda chinesa tem assegurado o crescimento das nossas exportações.
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Outra questão relevante é como os operadores de comércio exterior estão analisando a desvalorização. Comércio exterior exige um olhar que vai além do curto prazo. Nesse contexto, mesmo com a forte desvalorização do real, os exportadores e importadores tendem a ser mais cautelosos e podem estar adiando decisões, como, por exemplo, a substituição de fornecedores estrangeiros por domésticos.
A melhora do saldo comercial pelo lado das exportações está associada à contribuição da China. No auge do boom das commodities no início da década de 2010, o superávit com a China chegou a explicar 39% do saldo total da balança em 2011, que foi de US$ 29,8 bilhões.
Desde 2018, o percentual de contribuição da China tem aumentado e chegou a 68% no acumulado do ano até setembro de 2020, quando o superávit do Brasil com a China foi de US$ 28,8 bilhões.
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O eixo do dinamismo do comércio exterior se deslocou para a Ásia, que explicou 49% das exportações e 35% das importações de janeiro a setembro de 2020. Nesse mesmo período, os percentuais da União Europeia foram de 14% (exportações) e 17% (importações).
Essas porcentagens são inferiores ao da China, que são de 34% de exportações e 21% de importações. O efeito pandemia, que atingiu mais fortemente a economia europeia do que a chinesa, pode ter aumentado as diferenças nas participações, mas não é somente isso, já que a participação da China já superava a da União Europeia como destino das exportações brasileiras desde 2015.