Sementes de caju guardadas há 20 anos germinam e animam cientistas
Testes realizados na Embrapa Agroindústria Tropical (CE) e Embrapa Recursos Genéticos (DF) revelaram ser possível preservar o patrimônio genético do cajueiro, a longo prazo, por meio de sementes. Sementes guardadas há 20 anos foram testadas com índice de germinação de 90%, segundo divulgação feita pela organização nesta terça-feira (24).
Esse resultado é um alento para a ciência, que está preocupada com o declínio crescente de populações de cajueiro. O resultado animou os pesquisadores, pois a manutenção de sementes em câmara fria ampliará os esforços de conservação da diversidade. Até agora, o padrão estabelecido é a utilização de plantas em campo e telado, uma estratégia que exige grandes investimentos em área agrícola, insumos e serviços.
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Para os pesquisadores, a viabilidade de uma segunda via de conservação representa uma esperança para o futuro. “O cajueiro é uma importante planta nativa, os velhos cajueiros gigantes, mesmo improdutivos, guardam um rico patrimônio genético”, diz a pesquisadora Ana Cecília Ribeiro de Castro.
A cientista que é coordenadora do Banco de Germoplasma de Cajueiro, o BAG Caju, salienta que essa variabilidade é muito valiosa e guarda riquezas como resistência a doenças e pragas que poderão surgir no futuro. O BAG Caju é o maior e mais antigo banco dedicado à conservação da variabilidade genética do cajueiro do mundo.
Ela explica ainda que até o momento não havia dados de pesquisa que atestassem a viabilidade da manutenção de sementes de cajueiro a longo prazo. Uma remessa de sementes guardadas há 20 anos a -20°C na Coleção de Base de Sementes (Colbase) – mantida na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, revelou que essa é uma estratégia factível.
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“Solicitamos o material ao pesquisador responsável pela Colbase. A germinação foi praticamente a de uma semente recém-colhida. Excelente”, comemora.
A cientista pondera ainda que embora represente uma boa alternativa, esse avanço não substitui a necessidade de manter as plantas clonadas no campo, porque o cajueiro é uma espécie alógama. Isso significa que sua fertilização é cruzada. Ou seja, uma semente apenas não carrega todas as características expressas na planta que a gerou.
“Se pego sementes no campo aleatoriamente, vou ter árvores diferentes, em termos de fenótipo. Para representar uma planta no BAG serão necessárias muitas sementes, ou simplesmente obtê-la por clonagem”, explica.
Para ela, a maior importância do trabalho é a possibilidade de ampliar os esforços de conservação da biodiversidade do cajueiro, mesmo que não tenha como analisar agora. “Eu posso coletar a biodiversidade agora para, em uma segunda etapa, com ferramentas analíticas mais robustas, daqui a 20 anos, quem estiver no meu lugar tenha o recurso genético guardado”, revela.
BAG Caju
O BAG Caju existe há mais de 50 anos. Fica instalado em uma antiga estação experimental, atualmente denominada Campo Experimental de Pacajus – cidade situada na Região Metropolitana de Fortaleza (CE). A coleção, formada por 778 acessos, disponibiliza uma base genética que vem sendo utilizada para auxiliar no desenvolvimento de cultivares, para diferentes fins, ambientes e condições de cultivo.
O trabalho de conservação envolve os tratos culturais com as árvores, o monitoramento e a catalogação das informações do pomar e do que é produzido a cada safra. Na última safra, chegaram ao laboratório de avaliação frutos de diferentes tamanhos, cores e sabores.
O maior caju pesou 400 gramas. O menor, 10 gramas. A variabilidade incluiu castanhas minúsculas, que não chegaram a um grama, e castanhas de 20 gramas. São frutos bonitos, feios, grandes, pequenos, atacados por doenças, com alto teor de vitamina C, com mais travo e mais ou menos doces.