De acordo com estudo, o Brasil tinha 3.299 espécies de animais e plantas ameaçadas de extinção em 2014
Esse número representa 19,8% do total de 16.645 espécies avaliadas nas Contas de Ecossistemas: Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil, divulgadas hoje (5), pelo IBGE. O estudo analisou os números de espécies ameaçadas nos biomas brasileiros e diferentes tipos de ambiente (terrestre, água doce e marinho).
A pesquisa foi feita com bases nas listas oficiais do Ministério do Meio Ambiente, organizadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pelo Centro Nacional de Conservação da Flora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (CNCFlora/JBRJ), de 4.617 espécies da flora e 12.262 espécies da fauna, respectivamente, dentre as mais de 166 mil (49.168 de plantas e 117.096 de animais) reconhecidas no país.
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A Mata Atlântica foi o bioma com mais espécies ameaçadas: ao todo, pesquisadores encontraram 1.989, ou 25% do total das espécies avaliadas do bioma. Em seguida, vem o Cerrado, com 1.061 (19,7%).
Os dois hotspots brasileiros, a Mata Atlântica e o Cerrado preocupam especialistas. No caso da primeira, observam-se perdas importantes na quantidade de área de cobertura natural ao longo dos séculos, devido a maior presença de ambientes antropizados.
Ou seja, onde houve ação humana, por conta do histórico de ocupação e urbanização, a partir do litoral, na formação do território brasileiro. Por exemplo, do total de espécies avaliadas da flora marinha nativa do bioma avaliadas, 32,7% (146) estão ameaçadas.
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Já no Cerrado, o aumento da área antropizada é mais recente, crescendo nas últimas décadas. “A pesquisa mostra que há reflexo dessas ações na situação das espécies da fauna e da flora, após o bioma ter perdido metade da área de cobertura natural neste período”, afirma o coordenador da pesquisa, Leonardo Bergamini, citando o estudo Uso da Terra nos Biomas Brasileiros, publicado pelo IBGE em setembro.
O Cerrado também apresenta a segunda menor proporção de espécies na categoria “menos preocupante” (67,0%).
Pantanal e Amazônia
A lista dos biomas segue com a Caatinga, com 366 espécies ameaçadas (18,2%), e o Pampa, com 194 espécies em risco (14,5%). Este último é único bioma em que o ambiente de água doce tem uma proporção de espécies de animais ameaçadas maior do que o ambiente terrestre: 48 espécies, o que representa 8,4% das espécies de água doce avaliadas do Pampa, contra 5,4% no ambiente terrestre.
Na parte final do ranking, o Pantanal e a Amazônia têm as maiores proporções de espécies na categoria “menos preocupante” (88,7% e 84,3%, respectivamente) e, também, o menor percentual de espécies consideradas ameaçadas: 3,8% e 4,7%, nesta ordem. Em números absolutos, são 54 espécies ameaçadas no Pantanal e 278 na Amazônia.
O estudo mostra também que o país já tem, ao menos, dez espécies da fauna nativa extintas:
- Aves Maçarico-esquimó (Numenius borealis),
- Gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti),
- Limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi),
- Peito-vermelho-grande (Sturnella defilippii),
- Arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus),
- Caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum);
- Anfíbio Perereca-verde-de-fímbria (Phrynomedusa fimbriata);
- Mamífero Rato-de-Noronha (Noronhomys vespuccii);
- Peixes marinhos Tubarão-dente-de-agulha (Carcharhinus isodon), e
- Tubarão-lagarto (Schroederichthys bivius).
Além dessas, há mais uma espécie extinta na natureza e que atualmente depende de programas de reprodução em cativeiro: a ave Mutum-do-Nordeste (Pauxi mitu), nativa da Mata Atlântica.
Avaliação das espécies
São consideradas ameaçadas as espécies nas categorias ‘vulnerável’, ‘em perigo’ e ‘criticamente em perigo’. Bergamini explica que, para compor essa classificação, a metodologia abrange cinco critérios.
Um dos critérios utilizados para elaborar a lista da fauna foi a necessidade de pesquisar, desde já, todos os animais vertebrados e alguns invertebrados com interesse econômico ou propensão maior de ameaça de desaparecimento.
Já no caso da flora, a lista das espécies foi baseada nas espécies em que constavam previamente em outras listas estaduais, nacionais ou na Lista Vermelha Global da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
O estudo Contas de Espécies Ameaçadas faz parte das Contas Econômicas Ambientais do IBGE e representa mais uma etapa do projeto de incluir os indicadores ambientais do país nas Contas Nacionais.